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Quanto cresceria o PIB do Brasil com mais Ensino Técnico?

Estudo feito por pesquisadores do Insper mostra crescimento no PIB brasileiro se o País expandisse a quantidade de alunos em cursos de ensino médio técnico. Segundo a pesquisa, o impacto positivo seria entre 1,34% e 2,32%, em longo prazo, quando a probabilidade de conseguir uma vaga na educação profissional e tecnológica dobra ou triplica. A conclusão é a de que esses alunos formados geram maior produção para a economia.

Hoje, só 20% dos alunos do Brasil conseguem ingressar na modalidade, segundo previsões do estudo. A oferta de vagas no técnico é limitada e algumas vezes é necessário ser aprovado por processo seletivo (vestibulinho).

“Estamos desperdiçando a juventude do Brasil, a inteligência, a criatividade, os sonhos, a perspectiva de sermos um país potente e justo”, afirma Ana Inoe, superintendente da Fundação Itaú Educação e Trabalho.

A pesquisa, feita a pedido da entidade que apoia a educação profissional e tecnológica, mostra ainda diminuição da desigualdade de renda com o investimento na área. “O desenvolvimento econômico do País será consequência de termos uma população ativa, criativa, atuante, e isso só acontecer se cuidarmos da juventude.”

Estamos desperdiçando a juventude do Brasil

Estudos anteriores já haviam mostrado aumento de remuneração de 12% para alunos de ensino técnico em relação aos que cursaram apenas o médio. A pesquisa atual examinou as consequências macroeconômicas – ela foca nos benefícios da expansão da modalidade para a sociedade, e não apenas para os estudantes.

A ampliação da educação profissional e tecnológica é encarada como prioridade pelo Ministério da Educação (MEC), mas há críticas sobre como a carga horária da modalidade foi definida na reformulação do novo ensino médio, enviada ao Congresso pelo governo mês passado.

A reforma do ensino médio prevê um currículo de carga horária mais flexível, com parte do conteúdo a ser escolhido pelo aluno. O técnico é uma das opções que as escolas estaduais podem oferecer no novo ensino médio.

Países desenvolvidos, que têm os melhores resultados em avaliações internacionais de educação, investem fortemente para que os alunos cursem o ensino profissional junto com o médio. No Brasil, só 10% dos alunos cursam o técnico, quando a taxa é de 68% na Finlândia e de 49% na Alemanha.

Segundo o pesquisador do Insper Vitor Fancio, um dos responsáveis pelo estudo, “diferentes tipos de educação proporcionam diferentes capitais humanos”. “A capacidade de produzir de uma empresa que tem mais funcionários com ensino médio técnico é maior, produz mais bens, mais serviços, do que se tivesse funcionários majoritariamente com fundamental e médio tradicional”, explica. Isso é o que leva à elevação do PIB a longo prazo no País, completa.

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O estudo calculou esse resultado ao simular o aumento da probabilidade de acesso a vagas no ensino técnico pelos jovens, das atuais 20% para 40% e 60%. A premissa é de que a pouca abrangência do ensino médio técnico no País não está associada a um baixo interesse dos estudantes.

A pesquisa cita o exemplo do Centro Paula Souza, que oferece ensino técnico em São Paulo e tem cinco vezes mais candidatos do que o número de vagas disponíveis. Pesquisas de opinião também têm mostrado o grande interesse dos jovens em cursar o técnico.

Ao analisar o efeito da expansão de vagas nas variáveis de escolaridade e distribuição de renda, os pesquisadores projetaram um cenário em que 4,10% da população estaria formada na modalidade. Hoje, esse índice é de 0,94%. Dessa forma, o PIB cresceria em até 2,32%. Além disso, eles calcularam o bem-estar da sociedade a partir das mudanças.

“Os resultados obtidos evidenciam que investimentos na expansão da oferta de ensino médio técnico valem a pena ser considerados. Isso não apenas no Brasil, mas também em economias em desenvolvimento com baixa produtividade”, relata o estudo. “Há significativo potencial de resultar em benefícios para a sociedade, como a redução da desigualdade de renda, o aumento do PIB e do bem-estar em termos de consumo.”

O estudo também conclui que, apesar do ensino técnico ser mais caro do que o tradicional, os gastos governamentais em relação ao PIB não crescem porque a produção dos trabalhadores aumenta.

Para Ana Inoe, o investimento não pode ser apenas da área da educação. “As políticas precisam ser intersetoriais, envolver todos os atores, o governo, o setor produtivo, as universidades”, afirma.

“A educação profissional deve ser só uma etapa do desenvolvimento do indivíduo”, completa. Ana e outros especialistas refutam a ideia de que o ensino técnico impede que o aluno curse a universidade e veem isso como um estigma que precisa ser combatido.

Para o professor da Universidade de Stanford (EUA) Eric Bettinger, que participou este ano de um estudo sobre a modalidade em vários países, o ensino profissional tecnológico “democratiza a educação porque oferece um conjunto mais amplo de oportunidades aos estudantes”.

“Quando os Estados Unidos expandiram a oferta dos community colleges (que oferecem ensino técnico), o total de jovens que seguiram estudando após o ensino médio aumentou.” O mesmo é registrado em países como Alemanha e Suíça, onde muitos dos que cursam o técnico durante o ensino médio ingressam na universidade.

O trabalho do Insper sugere ainda mudanças nos currículos para que eles se adequem às demandas atuais do mundo do trabalho. Entre as recomendações, estão “usar informações sobre as profissões e habilidades em alta demanda atualmente e no futuro pelas economias emergentes”, com integração de bases de dados de vagas de empregos e do mapeamento dos perfis procurados pelo mercado.

O técnico na reforma do ensino médio
Desde o início do ano, o MEC vinha sendo pressionado para mudar a reforma do ensino médio, que contempla o ensino técnico como um dos caminhos possíveis para o aluno. O projeto enviado ao Congresso pelo governo mexeu nas cargas horárias e, depois de idas e vindas, deixou o ensino profissional com 2,1 mil horas para as disciplinas básicas e 900 para as técnicas (nos três anos de ensino médio). No caso do ensino médio regular, a formação básica ficou maior, com 2,4 mil horas.

Como mostrou o Estadão, na visão do relator do projeto no Legislativo, o ex-ministro da Educação e atual deputado federal Mendonça Filho (União Brasil-PE), essa estrutura promove desigualdades e inviabiliza os cursos técnicos no País. “Quando se garante um conteúdo comum diferente para dois públicos, não está promovendo equidade”, diz ele, que era titular do MEC em 2017, quando a reforma foi aprovada.

Além disso, ele ressalta que “cursos técnicos mais qualificados, como da área de Tecnologia de Informação (TI) e Saúde que exigem 1,2 mil horas específicas”, não poderão ser oferecidos, já que foram deixadas apenas 900 horas para essa parte do currículo. “Como vai encaixar? Qualquer formulação na área tem de ser baseada em evidências e em conexão com o mundo”, afirma o parlamentar.

Como o Estadão revelou, mais de 65% dos cursos técnicos têm hoje 1,2 mil horas, segundo exigências curriculares do próprio ministério. Ao se adicionar as 2,1 mil horas para as disciplinas básicas, como propõe o MEC, ficaria um total de 3,3 mil horas, o que não é possível de se oferecer em um turno apenas – manhã, tarde ou noite.

Para cumprir a nova carga horária, as escolas que oferecem o ensino médio junto com o técnico nessas áreas seriam obrigadas a investir em educação em tempo integral, que exige mais recursos e estrutura, ou terão de fechar vagas. Por causa disso, alguns secretários de educação também têm se posicionado contra o projeto apresentado pelo governo.

O MEC tem defendido justamente que os Estados invistam em ensino integral caso queiram ofertar modalidades técnicas que exijam uma carga horária maior.

Antes da mudança do governo atual, a formação básica no novo ensino médio – cujo projeto anterior foi elaborado pelo próprio Mendonça Filho – era de 1,8 mil horas, ficando 1,2 mil para o técnico.

A quantidade de horas, no entanto, foi um dos maiores motivos de críticas à reforma do governo de Michel Temer (MDB) em 2017, tanto de especialistas quanto de estudantes. Eles reclamavam da redução do tempo para aulas como Português, Matemática, Biologia, História, na grade curricular.

Mendonça Filho pretende elaborar sua proposta até o começo de dezembro para tentar votar antes do recesso de fim de ano. “Todo mundo sabe que não dá para ofertar o ensino técnico dessa forma. E o Brasil está negando um destino de empregabilidade e renda aos jovens”, afirma.