Estamos vivendo em uma época de excessos, de acesso sem precedentes a estímulos de alta recompensa e alta dopamina: drogas, comida, notícias, jogos, compras, sexo, redes sociais. A variedade e a potência desses estímulos são impressionantes, assim como seu poder adictivo. Nossos telefones celulares oferecem dopamina digital 24 horas por dia, 7 dias por semana, para uma sociedade ao mesmo tempo conectada e alheia do que acontece ao redor. Estamos todos vulneráveis ao consumo excessivo e à compulsão. Em Nação dopamina, Dra. Anna Lembke, psiquiatra e professora da Escola de Medicina da renomada Universidade Stanford, explora as novas e empolgantes descobertas científicas que explicam por que a busca incansável do prazer gera mais sofrimento do que felicidade, e o que podemos fazer a respeito. Traduzindo a complexidade da neurociência para metáforas fáceis de entender, a Dra. Anna mostra que o caminho para manter a dopamina sob controle é encontrar contentamento nas pequenas coisas e nos conectar com as pessoas queridas.

Introdução: O Problema
Os seres humanos transformaram o mundo de um lugar de escassez em um lugar de grande abundância, para o qual o nosso cérebro não está preparado. Os mecanismos de busca de prazer, que serviam para impulsionar a sobrevivência acabaram sendo geradores de vícios que desequilibram o processo que regula as sensações interconectadas de prazer e dor.

Capítulo 1: Nossas Máquinas de Masturbação
No mundo contemporâneo, existem pessoas com vícios mais problemáticos, como é o caso do indivíduo que chegou a desenvolver uma máquina de masturbação que dá nome a esse capítulo (cuja história pode ser conhecida no livro) e outras, com vícios menos radicais, mas ainda assim, com consequências desconfortáveis. A definição ampla de vício passa pelo consumo contínuo e compulsivo de substâncias ou comportamentos a despeito do mal que possa gerar para si ou para o outro. E no mundo de abundância em que uma grande parte das pessoas vive, a disponibilidade dessas substâncias ou o incentivo a esses comportamentos têm facilitado demais o desenvolvimento de tais vícios, o que é preocupante pois os estudos mostram que quanto maior a disponibilidade, maior a probabilidade do desenvolvimento do vício. As consequências são catastróficas já que 70% das mortes no mundo são atribuída a comportamentos modificáveis como fumo, sedentarismo e alimentação. E as pessoas com baixo nível de educação têm se mostrado às mais vulneráveis. Além do que, o risco não é só das pessoas; o próprio planeta sofre as consequências de alguns desses comportamentos viciados.

Capítulo 2: Fugindo da Dor
A busca da felicidade pessoal se tornou a máxima contemporânea o que, reforçado pela crença dos pais do mundo de hoje de que qualquer experiência negativa pode ser traumática para uma criança, acabou construindo um mundo onde as pessoas são menos tolerantes com as adversidades e muito mais hedonistas. O curioso é que mesmo com todos os recursos terapêuticos e farmacológicos disponíveis, as pessoas têm se declarado cada vez mais infelizes.

Capítulo 3: O Equilíbrio Prazer/Dor
Os mecanismos de garantia de sobrevivência passam pela manutenção de um certo equilíbrio entre as sensações de prazer e dor (que envolvem o neurotransmissor Dopamina), de forma que a busca excessiva de prazer acaba por trazer, como consequência, grande dor. O que é amplificado pelo fato de que todo organismo se adapta à presença de uma determinada substância ou comportamento que traz prazer, fazendo com que depois de algum tempo esse prazer não exista mais no mesmo nível, levando o indivíduo a consumir cada vez mais daquilo no que está viciado até situações insustentáveis.

Capítulo 4: Jejum de Dopamina
O processo usado para tratar os vícios respondem pelo acrônimo DOPAMINE e pode ser usado para qualquer tipo de substância ou comportamento que disparam a produção de dopamina. A letra D representa Dados e significa que tudo deve começar com a organização de fatos sobre o consumo. A letra O representa Objetivos e busca entender porque a pessoa faz uso da substância ou comportamento, pois sempre há alguma lógica pessoal sustentando a situação. P representa Problema e aponta quais são as consequências negativas do vício, seja na área da moral, saúde, relacionamento entre outras. Geralmente esses problemas aparecem com o tempo e por isso nem sempre é fácil estabelecer uma relação de causa e consequência clara entre os comportamentos de curto prazo e os resultados de longo prazo. A letra A representa Abstinência, um momento crucial da abordagem, na medida que só assim a homeostase (equilíbrio entre prazer e dor) é restaurado. O tempo de abstinência depende de muitos fatores – que são tratados no livro. A letra M representa Mindfulness, a capacidade de observar o que nosso cérebro está fazendo sem julgamento; e que é especialmente importante nos primeiros dias de abstinência. A letra I representa Insights; conclusões e ideias que emergem da mente clara que a abstinência e o Mindfulness permitem. A letra N representa Next Steps (próximos passos) que significa decidir se a interrupção no consumo irá se prolongar ou se a tentativa será um consumo moderado. Por fim, a letra E representa Experimentação, um processo contínuo de tentativa e erro no qual se descobre o que funciona e o que não funciona.

Dados
Objetivos
Problema
Abstinência
Mindfulness
Insights (conclusões)
Next Steps (próximos passos)
Experimentação

Capítulo 5: Espaço, Tempo e Significado
Interpor barreiras entre nós e nossos vícios não resolve a questão, mas pode ajudar muito a lidar com a poderosa força do desejo. Pelo menos retardando o acesso às coisas e comportamentos que nos prejudicam e nos possibilitando mais um tempo para tentar lidar com o impulso. Existem três tipos de barreira: físicas, cronológicas e de categoria. Quando criamos uma forma de impossibilitar o acesso material ao nosso objeto de desejo estamos usando a barreira física (um armário onde doces ou bebidas ficam trancadas, por exemplo), que pode ser construída também através de medicamentos e cirurgias e que dificultam a nossa aproximação com aquilo no que somos viciados. Quando usamos mecanismos para dar acesso temporário aos nossos vícios (como aplicativos que bloqueiam celulares e outros aparelhos) estamos na esfera cronológica. Quando restringimos voluntaria ou involuntariamente categorias de produtos que podemos consumir (como doces dietéticos ou sem glúten) ou comportamentos que podemos ter, estamos lançando mão de barreiras de categoria.

Capítulo 6: Um Equilíbrio Torto?
A abordagem predominante para lidar com problemas como depressão, ansiedade, déficit de atenção (TDAH), distorções cognitivas, entre outros é através de medicamentos. A premissa é que se falta alguma substância no corpo de uma pessoa, a melhor solução é repô-la para que a pessoa possa funcionar normalmente. Mas alguns pontos de atenção devem ser levantados: algumas dessas drogas têm o potencial de viciar, ainda não se sabe quais são as consequências de longo prazo e é possível que ao invés de reumanizar esses medicamentos venham a desumanizar uma pessoa.

Capítulo 7: Forçando o Lado da Dor
As descobertas científicas na área do funcionamento do cérebro, dão conta de que quando uma pessoa é submetida a uma certa dor, o corpo dispara mecanismos para estabelecer novamente o equilíbrio e faz isso provocando prazer, para atingir a homeostase. Então, da mesma forma que alguns prazeres intensos no curto prazo trazem dor no longo prazo; sofrer algumas dores pode levar à sensação de prazer no médio e longo prazo. Essa constatação não é nova e combina com as observações dos filósofos gregos. Um exemplo interessante é o próprio exercício físico que causa intoxicação celular, aumento de temperaturas oxidação e privação de glicose e oxigênio e ainda sim, traz comprovados benefícios ao corpo. Mas como sempre, os extremos são perigosos. Muita exposição ou a exposição a uma dor muito potente pode levar ao vício em dor. No mundo contemporâneo um vício ligado à essa questão é o vício em trabalho que gera um benefício de longo prazo através do consumo e que tem um potencial altamente viciante.

Capítulo 8: Honestidade Radical
A honestidade radical vem se mostrando um instrumento fundamental para a recuperação da estabilidade na saúde mental e física. Em primeiro lugar a honestidade consigo mesmo e com aqueles próximos que sofrem as consequências dos vícios é uma forma de se conscientizar das próprias ações (evitando o processo de negação), depois fortalece as conexões humanas que são importantes para a superação dos desafios e por fim leva uma pessoa a assumir a responsabilidade pelo seu futuro. Além do que os estudos mostram que falar a verdade leva a um fortalecimento da área do cérebro chamada de Córtex Pré-Frontal, responsável pelo processo de planejamento e tomada de decisões conscientes.

Capítulo 9: Vergonha Social
Vergonha e culpa são duas emoções diferentes. Vergonha nos faz sentir mal com relação a nós mesmos como pessoas, enquanto culpa nos faz sentir mal com relação as nossas ações. Vergonha é uma falha no nosso processo evolutivo enquanto culpa é uma emoção considerada uma evolução da espécie. Quando as outras pessoas respondem rejeitando, condenando ou evitando alguém por causa de um vício, esse alguém entra num ciclo negativo de vergonha destrutiva que aprofunda o vício, através dos seguintes passos: consumo exagerado, vergonha, mentira, isolamento, aumento do consumo, e assim continuamente. Quando, pelo contrário, existe aceitação há uma interrupção do ciclo que tende a levar à diminuição do consumo, que inaugura um ciclo de vergonha pró-social positiva que nasce da honestidade radical. Isso mostra que não é nossa perfeição, mas nossa disponibilidade para trabalhar juntos os erros que nos leva ao nível de intimidade que impulsiona o equilíbrio. Vale dizer, que a mídia social tende a nos levar a uma maior vergonha destrutiva na medida em que passamos a nos comparar não apenas com as pessoas que estão perto de nós, mas uma gama enorme de pessoas que acabam por nos passar a imagem de uma vida idealizada que nos faz sentir mal com relação a nós mesmos, gerando um tipo de vergonha.

Conclusão: Lições do Equilíbrio
Substâncias e comportamentos viciantes trazem um alívio de curto prazo, mas adicionam vários problemas a longo prazo. Então, por que não mergulhar no mundo, ao invés de querer escapar dele. Se fazer imerso totalmente na vida que lhe foi dada e encará-la de frente. Dessa forma o mundo pode se revelar algo que vale a pena prestar atenção. As recompensas do equilíbrio não são imediatas nem permanentes. Elas requerem paciência e manutenção. Mas valem a pena.

Anna Lembke (nascida em 27 de novembro de 1967) é uma psiquiatra americana chefe da Clínica de Diagnóstico Duplo de Medicina de Dependência de Stanford na Universidade de Stanford. É especialista em epidemia de opioides nos Estados Unidos e autora de Drug Dealer, MD, How Doctors Were Duped, Patient Got Hooked, and Why It’s So Hard to Stop. Seu último livro, um best-seller do New York Times, Dopamine Nation: Finding Balance in the Age of Indulgence, foi lançado em agosto de 2021.

Lembke apareceu no documentário da Netflix de 2020 , The Social Dilemma.

Mais informações (em inglês): https://www.annalembke.com/dopamine-nation

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