O processo contra a Meta — a empresa proprietária de Facebook e Instagram — além do TikTok, do Google e Snap Inc. (dona do Snapchat), é um dos maiores já movidos no Vale do Silício

Por Angus Crawford e Tony Smith, BBC News

Centenas de famílias estão processando algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo — que, segundo elas, conscientemente expõem crianças a conteúdos e produtos prejudiciais.

Uma das pessoas responsáveis pela ação explica por que estão tentando desafiar o poder do Vale do Silício.
“Eu literalmente estava aprisionado pela dependência aos 12 anos. E não recuperei minha vida durante toda a adolescência.”

Taylor Little desenvolveu uma dependência das redes sociais que levou a tentativas de suicídio e anos de depressão.
Little, que agora tem 21 anos e utiliza o pronome neutro “eles” (tradução direta do they/them no original em inglês), descreve as empresas de tecnologia como “monstros grandes e maus”.
Essas empresas, segundo Little, colocam conscientemente nas mãos das crianças com acesso à internet produtos altamente viciantes e prejudiciais.

Por isso, Little e centenas de outras famílias americanas estão processando quatro das maiores empresas de tecnologia do mundo.

Prejudiciais desde o projeto

O processo contra a Meta — a empresa proprietária de Facebook e Instagram — além do TikTok, do Google e Snap Inc. (dona do Snapchat), é um dos maiores já movidos no Vale do Silício.

Os autores da ação judicial incluem famílias comuns e distritos escolares de várias partes dos Estados Unidos.

Eles alegam que as plataformas são prejudiciais de forma intencional.

Os advogados das famílias acreditam que o caso da adolescente britânica Molly Russell, de 14 anos, serve como exemplo dos potenciais danos enfrentados pelos adolescentes relacionados ao uso das redes sociais.

No ano passado, os advogados acompanharam a investigação sobre a morte de Russell via videoconferência de Washington, em busca de qualquer evidência que pudessem usar no processo movido nos Estados Unidos.

O nome de Russell é mencionado dezenas de vezes na ação apresentada ao tribunal na Califórnia.

Molly Russell

Molly Russell

Na semana passada, as famílias envolvidas no caso receberam um impulso poderoso quando uma juíza federal decidiu que as empresas não poderiam usar a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos — que protege a liberdade de expressão — para bloquear a ação judicial.

A juíza Gonzalez Rogers também decidiu que a Seção 230 da Lei de Decência nas Comunicações, que afirma que as plataformas não são editoras, não dava às empresas proteção total.

A juíza considerou que, por exemplo, a falta de verificação “robusta” da idade dos usuários e os fracos controles parentais, como argumentam as famílias, não são questões de liberdade de expressão.

Advogados das famílias classificaram as decisões de Rogers como uma “vitória significativa”.
As empresas afirmam que as alegações não são verdadeiras e que pretendem se defender vigorosamente.

‘Sentimento de abstinência’
Little, que mora no Colorado, conta que antes de ter o primeiro smartphone, praticava esportes e participava de aulas de dança e teatro.
“Se tirassem meu celular, era como ter abstinência. Era insuportável. Literalmente, quando digo que era viciante, não quero dizer que se tratava apenas de um hábito. Quero dizer que meu corpo e mente ansiavam por aquilo.”

Little lembra da primeira notificação de mídia social na qual clicou.
Era uma página pessoal de automutilação de alguém, com imagens sensíveis de ferimentos e cortes.
“Aos 11 anos, acessei uma página e vi isso sem aviso. Não procurei por esse tema. Tenho 21 anos e ainda consigo ver [aquelas imagens].”
Little também enfrentou dificuldades com conteúdos relacionados à imagem corporal e distúrbios alimentares.

“Isso era — e é — como um culto. Você é constantemente bombardeado com fotografias de um corpo que não pode alcançar sem morrer.”
“Não há como escapar disso.”

Os advogados de Little e dos outros autores da ação adotaram uma abordagem inovadora para o processo, com foco em como as plataformas são concebidas e projetadas — e não apenas em postagens, comentários ou imagens individuais.

A Meta publicou uma declaração em que afirma: “Nossos pensamentos estão com as famílias representadas nestas queixas. Queremos tranquilizar cada pai de que temos os interesses deles no trabalho que estamos fazendo para fornecer experiências online seguras e de apoio aos adolescentes.”

O TikTok se recusou a comentar sobre a ação.

O Google afirmou: “As alegações nessas queixas simplesmente não são verdadeiras. Proteger as crianças em todas as plataformas sempre foi fundamental para o nosso trabalho.”

Já o Snapchat disse que sua plataforma “foi projetada para eliminar a pressão de ser perfeito”.
“Verificamos todo o conteúdo antes que possa atingir um grande público para evitar a propagação de qualquer coisa que possa ser prejudicial”, afirmou a empresa.

Little conhece bem a história de Molly Russell, que morava no noroeste de Londres e tirou a própria vida após ser exposta a conteúdos com tom negativo e depressivo no Instagram.
Uma investigação sobre a morte da menina concluiu que ela morreu “sofrendo de depressão e dos efeitos negativos do conteúdo online”.

Little diz que as histórias são muito parecidas.
“Me sinto incrivelmente com sorte por ter sobrevivido. E meu coração se parte de maneiras que não consigo expressar por pessoas como Molly.”
“Sou feliz. Realmente amo minha vida. Estou em um lugar que não achei que viveria.”
Isso deixa Little com determinação para seguir adiante com a ação legal.
“Eles sabem que nós estamos morrendo. E não se importam. Eles ganham dinheiro com a nossa morte.”

“Toda esperança que tenho para uma mídia social melhor depende inteiramente de nós vencermos [a ação] e forçá-los a fazer [as mudanças] — porque eles nunca, nunca, nunca escolherão fazer isso por conta própria.”

> Detalhes sobre decisão da juíza distrital Yvonne Gonzalez Rogers, em Oakland, na Califórnia, rejeitou um pedido das empresas para derrubar os processos. Matéria completa.

Time: Este aplicativo pode resolver seu vício em mídias sociais

Frederik Riedel era viciado em Instagram. Foi no lockdown da COVID-19 e, preso em casa em Berlim, Riedel sabia que estava gastando muito tempo no aplicativo. Ele sabia que se sentia pior depois de usá-lo. E ainda assim, várias vezes ao dia, seu dedo gravitava em torno do pequeno ícone quadrado.

A solução que Riedel escolheu foi simples: remover o componente de gratificação instantânea que torna a abertura de aplicativos de mídia social tão viciante. Ele projetou um aplicativo que seria ativado sempre que seu dedo clicasse no ícone do Instagram e o forçaria a esperar cerca de 10 segundos antes de continuar. Durante o intervalo, o aplicativo o convidava a respirar fundo. Apenas com a introdução desse pequeno elemento de atrito, descobriu Riedel, seu uso das mídias sociais começou a diminuir drasticamente.

Ele carregou o aplicativo iOS – que chamou de “ one sec ” – na loja de aplicativos da Apple no final de 2020, onde já ultrapassou um quarto de milhão de downloads. Este mês, ele lançou extensões de navegador que trazem a mesma experiência para a web. Versão Android

O que a pesquisa mostra

Os resultados não são apenas anedóticos. Ao longo de seis semanas, um segundo pode reduzir em 57% o número de tentativas do usuário médio para abrir o aplicativo de sua preferência, de acordo com um estudo científico realizado com 280 participantes no início deste ano. (O estudo, realizado por psicólogos comportamentais do Instituto Max Planck e da Universidade de Heidelberg, está atualmente sob revisão por pares para publicação no PNAS Journal.) Parte dessa redução veio da decisão dos usuários de não abrir o aplicativo quando confrontados com o exercício respiratório; uma redução adicional veio do número reduzido de tentativas de abrir o aplicativo após seis semanas de uso.

O vício em mídias sociais é um problema crescente. Um total de 35% dos adolescentes norte-americanos dizem que usam pelo menos um aplicativo de mídia social “quase constantemente”, de acordo com um relatório de agosto do Pew Research Center. O aplicativo mais popular entre os adolescentes é o YouTube, com o TikTok e o Instagram não muito atrás. Muitos adolescentes, especialmente meninas, culpam o Instagram por exacerbar sua baixa autoestima, de acordo com documentos internos da empresa divulgados por um denunciante em 2021. De acordo com a pesquisa da Pew, 36% dos adolescentes sentem que passam “muito” tempo nas redes sociais, e 54% dizem que seria difícil ou muito difícil “desistir” totalmente do uso dos aplicativos.

Como funciona

Nos dois anos desde que Riedel carregou pela primeira vez um segundo na app store, ele desenvolveu uma série de recursos adicionais. A versão principal do aplicativo – que permite definir limites para um único aplicativo – sempre será gratuita, diz ele, mas por US$ 10 por ano o aplicativo pode fazer muito mais. A versão “pro” permite definir limites para quantos aplicativos você quiser e informa quantas vezes nas últimas 24 horas você tentou abrir cada aplicativo. Você pode ativar o recurso de rastreamento de intenção – que força você a fornecer um motivo para abrir o aplicativo antes de continuar. Você pode definir um lembrete que será acionado cinco minutos depois de abrir o aplicativo, se quiser evitar ser sugado. E você pode escrever sua própria lista de “alternativas saudáveis” – como ler um livro ou enviar mensagens de texto para um amigo. como inspiração para coisas para fazer em vez de rolar.

Riedel se distancia da mentalidade agitada que você costuma ouvir de influenciadores de autoajuda, que cantam os benefícios de abandonar as redes sociais para se concentrar mais no trabalho ou em projetos paralelos. Mesmo assim, livre do vício em redes sociais, Riedel diz que sua saúde mental melhorou e ele se sente mais enérgico e criativo. “Não aproveito todo o tempo que ganhei com o Instagram, só para trabalhar”, diz ele. “Mas mesmo que eu observe as nuvens por 10 minutos em vez de navegar por 10 minutos no Instagram, isso me ajuda a recuperar, a reavaliar, a obter nova inspiração, nova criatividade e nova energia. E então, não importa o que eu esteja fazendo, me sinto mais energizado e muito melhor em geral.”