Nota: Sempre procure um profissional – psicoterapeuta cognitivo ou psiquiatra para lhe orientar no tratamento de saúde mental adequado.

Ao questionar alguns pressupostos da psicanálise no início dos anos 60, o psiquiatra norte-americano Aaron Temkin Beck (Providence, 18 de julho de 1921 — 1 de novembro de 2021) desenvolveu alguns estudos na University of Pennsylvania que, após comprovações práticas e científicas dos benefícios, foram sistematizados no que conhecemos hoje como Terapia Cognitivo-Comportamental, sistema de psicoterapia conhecida no Brasil pela sigla TCC e nos EUA como CBT.
O Dr. Beck relata este início da seguinte forma: “Com base em minhas observações clínicas e em alguns experimentos e pesquisas clínicas sistemáticas, teorizei que havia um transtorno do pensamento no núcleo de síndromes psiquiátricas como a depressão e a ansiedade. O transtorno se refletia em uma parcialidade sistemática na forma como os pacientes interpretavam determinadas experiências. Ao assinalar essas interpretações tendenciosas e propor alternativas – isto é, explicações mais prováveis –, descobri que podia produzir uma redução quase imediata dos sintomas. O treinamento dos pacientes nessas habilidades cognitivas ajudou a manter as melhoras. Essa convergência para os problemas do aqui e agora parecia produzir um alívio quase total dos sintomas em um período de 10 a 14 semanas.”

Beck Institute Courses and Training

Características da TCC:
No livro Lehrbuch der Verhaltenstherapie (Manual de terapia comportamental), Jürgen Margraf e Silvia Schneider oferecem uma lista de nove princípios básicos que caracterizam os diversos métodos conceituais da TCC:

  1. a TCC se orienta no conhecimento empírico da psicologia científica;
  2. a TCC se orienta no problema (sintoma) atual do paciente;
  3. a TCC baseia-se na análise dos fatores de vulnerabilidade (predisposições), fatores desencadeadores e mantenedores dos transtornos mentais;
  4. por se orientar no problema, a TCC é também orientada para um objetivo definido (a modificação do comportamento problemático);
  5. a TCC é voltada para a ação e não apenas para a tomada de consciência e uma compreensão mais profunda do problema;
  6. a TCC não se restringe à situação terapêutica, mas se estende à vida diária do indivíduo;
  7. a TCC é transparente, tanto quanto a seus objetivos quanto a seus meios;
  8. a TCC procura ser uma ajuda para a autoajuda, ou seja, acentua a responsabilidade do próprio paciente no processo terapêutico e
  9. a TCC se esforça por estar em desenvolvimento constante.

Para quem deseja iniciar no assunto o livro a seguir da dra e filha do Aaron, Judith S. Beck oferece a base completa dos fundamentos e aplicação terapêutica:
Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática.
(título original: Cognitive Behavior Therapy: Basics and Beyond – The Guilford Press).

Para quem deseja aprender algumas ferramentas da TCC para uso pessoal indicamos o livro:
A Mente Vencendo o Humor: Mude como Você se Sente, Mudando o Modo como Você Pensa. de Dennis Greenberger e Christine A. Padesky.

Em poucas palavras, o modelo cognitivo propõe que o pensamento disfuncional (que influencia o humor e o pensamento do paciente) é comum a todos os transtornos psicológicos. Quando as pessoas aprendem a avaliar seu pensamento de forma mais realista e adaptativa, elas obtêm uma melhora em seu estado emocional e no comportamento.

O tratamento da TCC está baseado em uma conceituação, ou compreensão, de cada paciente (suas crenças específicas e padrões de comportamento). O terapeuta procura produzir de várias formas uma mudança cognitiva – modificação no pensamento e no sistema de crenças do paciente – para produzir uma mudança emocional e comportamental duradoura.

Terapia cognitivo comportamental - Psicologia e Psiquiatria > AbcMed

Segundo Judith Beck os princípios básicos da terapia cognitivo-comportamental são os seguintes:

  1. A terapia cognitivo-comportamental se baseia numa formulação em desenvolvimento contínuo dos problemas dos pacientes e em uma conceituação individual de cada paciente em termos cognitivos.
  2. A terapia cognitivo-comportamental exige uma aliança terapêutica sólida entre terapeuta e paciente.
  3. A terapia cognitivo-comportamental focaliza a colaboração e a participação ativa.
  4. A terapia cognitivo-comportamental é orientada para os objetivos e focada nos problemas.
  5. A terapia cognitivo-comportamental prioriza inicialmente o presente.
  6. A terapia cognitivo-comportamental é educativa, tem como objetivo ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza a prevenção de recaída.
  7. A terapia cognitivo-comportamental enfatiza ser limitada no tempo.
  8. As sessões de terapia cognitivo-comportamental são estruturadas.
  9. A terapia cognitivo-comportamental ensina os pacientes a eles próprios identificar, avaliar e responder aos seus pensamentos e crenças disfuncionais.
  10. A terapia cognitivo-comportamental utiliza uma variedade de técnicas para mudar o pensamento, o humor e o comportamento.

Principais benefícios:
– É comprovada cientificamente.
– É objetiva.
– Trata diretamente a origem do problema (trabalha as crenças básicas do paciente).
– É uma terapia de curto prazo (10 a 14 semanas).
– É eficaz também para problemas graves (depressão, ataques de pânico, abuso de substâncias, estresse pós-traumático).

Transtornos que são tratados com a TCC:
Transtorno depressivo maior
Depressão geriátrica
Transtorno de ansiedade generalizada (TAG)
Ansiedade geriátrica
Transtorno de pânico
Agorafobia
Fobia social
Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
Transtorno da conduta
Abuso de substância
Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade (TDAH)
Ansiedade pela saúde
Transtorno dismórfico corporal
Transtornos da alimentação
Transtornos da personalidade
Agressores sexuais
Transtornos de hábitos e dos impulsos
Transtorno bipolar (com medicação)
Esquizofrenia (com medicação)

Problemas conjugais
Problemas familiares
Jogo patológico
Luto complicado
Angústia do cuidador
Raiva e hostilidade

Dor lombar crônica
Crises de dor da anemia
Enxaqueca
Tinnitus (Zunido)
Dor do câncer
Transtornos somatoformes
Síndrome do intestino irritável
Síndrome da fadiga crônica
Dor de doença reumática
Disfunção erétil
Insônia
Obesidade
Vulvodínea
Hipertensão

Whitebook: conheça os principais aspectos da depressão - PEBMED

Alguns tratamentos:

Depressão
A TCC tem se mostrado um tratamento eficaz para a depressão clínica. O American Psychiatric Association Practice Guidelines (abril de 2000) indicou que, entre as abordagens psicoterapêuticas, a terapia cognitivo-comportamental e a psicoterapia interpessoal tiveram a eficácia mais bem documentada para o tratamento do transtorno depressivo maior. A teoria de Aaron T. Beck afirma que as pessoas deprimidas pensam da maneira que pensam porque seu pensamento tende a interpretações negativas. Segundo essa teoria, as pessoas deprimidas adquirem um esquema negativo do mundo na infância e na adolescência como efeito de eventos estressantes da vida, e o esquema negativo é ativado mais tarde na vida, quando a pessoa se depara com situações semelhantes.

Beck também descreveu uma tríade cognitiva negativa . A tríade cognitiva é formada pelas avaliações negativas do indivíduo deprimido sobre si mesmo, o mundo e o futuro. Beck sugeriu que essas avaliações negativas derivam dos esquemas negativos e vieses cognitivos da pessoa. De acordo com a teoria, as pessoas deprimidas têm opiniões como “Nunca faço um bom trabalho”, “É impossível ter um bom dia” e “as coisas nunca vão melhorar”. Um esquema negativo ajuda a dar origem ao viés cognitivo, e o viés cognitivo ajuda a alimentar o esquema negativo. Beck ainda propôs que pessoas deprimidas muitas vezes têm os seguintes vieses cognitivos: inferência arbitrária, abstração seletiva, supergeneralização, ampliação. Esses preconceitos cognitivos rapidamente fazem inferências negativas, generalizadas e pessoais alimentando assim o esquema negativo.

Vazio Existencial - Roda da Vida | Terapia on-line

Os transtornos de ansiedade
A TCC tem se mostrado eficaz no tratamento de adultos com transtornos de ansiedade. Um conceito básico em alguns tratamentos de TCC usados ​​em transtornos de ansiedade é a exposição ao vivo . A terapia de exposição à TCC se refere ao confronto direto de objetos, atividades ou situações temidas pelo paciente.

Parar de fumar
A TCC vê o hábito de fumar como um comportamento aprendido, que posteriormente se transforma em uma estratégia de enfrentamento para lidar com os estressores diários. Como o fumo costuma ser facilmente acessível e permite que o usuário se sinta bem rapidamente, ele pode ter precedência sobre outras estratégias de enfrentamento e, eventualmente, entrar na vida cotidiana durante eventos não estressantes. A TCC visa direcionar a função do comportamento, uma vez que pode variar entre os indivíduos, e funciona para introduzir outros mecanismos de enfrentamento do tabagismo. A TCC também tem como objetivo apoiar os indivíduos que sofrem de desejos intensos, que são um dos principais motivos relatados para recaída durante o tratamento.

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Desordens de abuso de substâncias psicotrópicas
Estudos demonstraram que a TCC é um tratamento eficaz para o abuso de substâncias. Para indivíduos com transtornos de abuso de substâncias, a TCC visa reformular pensamentos mal-adaptativos, como negação, minimização e catastrofização de padrões de pensamento, com narrativas mais saudáveis. Técnicas específicas incluem a identificação de gatilhos potenciais e o desenvolvimento de mecanismos de enfrentamento para gerenciar situações de alto risco. A pesquisa mostrou que a TCC é particularmente eficaz quando combinada com outros tratamentos ou medicamentos.

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Vício em internet
A pesquisa identificou o vício em Internet como um novo distúrbio clínico que causa problemas relacionais, ocupacionais e sociais. A TCC tem sido sugerida como o tratamento de escolha para o vício em Internet.

Autismo
Evidências emergentes para intervenções cognitivo-comportamentais destinadas a reduzir os sintomas de depressão, ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo em adultos autistas sem deficiência intelectual foram identificadas por meio de uma revisão sistemática. Embora a pesquisa tenha se concentrado em adultos, as intervenções cognitivo-comportamentais também foram benéficas para crianças autistas.