por Dr. Scott Litin, Clínica Mayo

O QUE É ISSO?

A depressão é um distúrbio de humor que causa persistente sentimento de tristeza e perda de interesse.

Mais do que “um ataque de tristeza”, a depressão não é algo que você pode “sair” quando quer. É uma doença que afeta como você se sente, pensa e se comporta, e isso pode levar a uma variedade de problemas emocionais e físicos.

QUAL É A CAUSA?

Não se sabe exatamente o que causa depressão. Como em muitos transtornos mentais, vários fatores podem estar envolvidos, como:

Diferenças biológicas. Pessoas com depressão parecem ter alterações físicas em seus cérebros. O significado dessas mudanças ainda é incerto, mas pode eventualmente ajudar na identificação das causas.

Química cerebral. Neurotransmissores são definidos como mensageiros químicos que transportam, estimulam e equilibram os sinais entre os neurônios e que provavelmente desempenham um papel na depressão. Sintomas depressivos pode ocorrer quando esses componentes químicos estão desequilibrados.

Hormônios. Alterações no equilíbrio hormonal do corpo podem estar envolvidas nas causas ou desencadear a depressão. As alterações hormonais podem ser resultado de problemas de tireoide, menopausa ou vários outros condições.

Hereditariedade. A depressão é mais comum em pessoas cujas parentes biológicos (sangue) têm a histórico. Pesquisadores estão pesquisando quais genes que possam estar envolvidos na depressão.

Eventos da vida. Eventos traumáticos, como a morte ou perda de um ente querido, problemas financeiros, alto estresse ou trauma na infância podem desencadear a depressão em algumas pessoas.

VERIFICADOR DE SINTOMAS

Para algumas pessoas, sintomas de depressão são tão graves que é óbvio que algo não está certo. Em outros casos as pessoas se sentem infelizes sem saber o por quê. Sinais e sintomas de depressão podem incluir:

• Sentimentos de tristeza, vazio ou infelicidade

• Explosões de fúria, irritabilidade ou frustração, mesmo em pequenos assuntos

• Perda de interesse ou prazer em atividades normais, como sexo

• Distúrbios do sono, incluindo insônia ou sono demais

• Cansaço e falta de energia

• Alterações no apetite causando perda ou ganho de peso

• Ansiedade, agitação ou inquietação

• lentidão no pensamento, fala ou movimentos corporais

• Sentimentos de inutilidade ou culpa, fixação em falhas passadas ou culpa você mesmo por coisas que não são de sua responsabilidade

• Problemas para pensar, concentrar, lembrar e tomar decisões

• Problemas físicos inexplicáveis, como dores nas costas ou dores de cabeça

• Pensamentos frequentes sobre morte, pensamentos suicidas, tentativas de suicídio

TRATAMENTO TRADICIONAL

Após o diagnóstico, seu médico pode sugerir uma ou mais terapias. Medicamentos e aconselhamento psicológico (psicoterapia) são muito eficazes para a maioria das pessoas.

Medicamentos

Existem muitos tipos de medicamentos antidepressivos. Você pode precisar tentar vários medicamentos antes de encontrar um que funcione.

Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS ou SSRI). Estes medicamentos são tipicamente a primeira linha de tratamento. Eles são mais seguros e geralmente causam menos efeitos colaterais do que outros tipos de antidepressivos. Os SSRIs incluem fluoxetina (Prozac), paroxetina (Paxil), sertralina (Zoloft), citalopram (Celexa) e escitalopram (Lexapro).

Inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (SNRIs). Exemplos de medicamentos SNRI incluem duloxetina (Cymbalta), venlafaxina (Effexor XR) e desvenlafaxina (Pristiq).

Norepinefrina e inibidores da recaptação da dopamina (NDRIs).

Bupropiona (Wellbutrin) se enquadra nesta categoria. É um dos poucos antidepressivos não frequentemente associados a efeitos colaterais sexuais.

Antidepressivos atípicos. Esses medicamentos não se encaixam perfeitamente em outros categorias antidepressivas. Eles incluem trazodona e mirtazapina (Remeron), que são sedativos. Um medicamento mais novo chamado vilazodona (Viibryd) é pensado para ter um baixo risco de efeitos colaterais sexuais.

Antidepressivos tricíclicos. Antidepressivos tricíclicos – como imipramina (Tofranil) e nortriptilina (Pamelor) – são usadas com menos frequência porque eles tendem a causar efeitos colaterais mais graves do que os mais novos antidepressivos.

Inibidores da monoamina oxidase (MAOIs). MAOIs – como tranylcypromine (Parnate) e phenelzine (Nardil) – são tipicamente prescrito quando outros medicamentos não funcionaram. Selegilina (Emsam), uma MAOI mais recente administrado através de um adesivo cutâneo, pode causar menos efeitos colaterais efeitos do que outros MAOIs.

Psicoterapia

A psicoterapia envolve o tratamento da depressão, falando sobre sua condição e questões relacionadas com um profissional de saúde mental. A psicoterapia pode ajudar você identificar problemas que podem estar contribuindo para a sua depressão, ajustar-se a numa crise ou dificuldade, substituir pensamentos negativos por positivos, encontrar melhores maneiras de resolver problemas, melhorar relacionamentos, estabelecer metas realistas para você mesmo e encontrar maneiras saudáveis ​​de lidar com o estresse.

Outros tratamentos

Para algumas pessoas, outros procedimentos podem ser usados. Eles incluem: Terapia eletroconvulsiva (ECT). Com este procedimento, as correntes são passadas através do cérebro. Acredita-se que a ECT melhore a depressão afetando os níveis de neurotransmissores cerebrais. A terapia é geralmente usada somente em pessoas que não melhoram com medicamentos, não podem tomar antidepressivos por motivos de saúde ou estão em alto risco de suicídio.

Estimulação magnética transcraniana (TMS ou EMT). Durante a TMS, você se senta em um cadeira reclinável e uma bobina é colocada contra o seu couro cabeludo. A bobina envia breves pulsos magnéticos para estimular as células nervosas do seu cérebro envolvidas regulação do humor. É outra opção quando outros tratamentos não funcionam.

TRATAMENTO NATURAL

Folha SP / Cochrane

Para depressão leve ou moderada, há opções de antidepressivos naturais que podem ter efeito. Relacionamos dez desses itens, que podem levantar o ânimo ou ajudar no tratamento da depressão. Oito deles têm algum grau de evidência -como critério, foram utilizadas meta-análises (revisões de vários estudos) da organização COCHRANE, rede global dedicada à revisão de pesquisas na área de saúde. Dois são controversos e precisam de mais estudos sobre sua eficácia e segurança.

Exercícios

O exercício estimula a secreção de endorfinas, que causam sensação de bem estar. “Além disso, melhora a circulação e a oxigenação do cérebro. E tem efeitos indiretos em sintomas ligados à depressão, como a qualidade do sono”, diz Frederico Navas Demetrio, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Em geral, acredita-se que os exercícios de maior intensidade sejam mais eficazes. Mas, na revisão de 25 estudos feita pela organização Cochrane, que confirmou que a atividade física melhora os sintomas de depressão, os pesquisadores afirmaram que não há evidência sobre qual tipo de exercício é mais eficaz. O que costuma funcionar melhor é praticar uma atividade física que dê prazer.

5-HTP (hitroxi-triptofano)

O 5-HTP é um aminoácido essencial, encontrado especialmente em alimentos proteicos, como carnes e laticínios. Não é produzido pelo corpo e precisa ser adquirido via alimentação. Esse aminoácido leva à produção de serotonina, neurotransmissor relacionado ao prazer e ao bem-estar.

Por isso, a suplementação de 5-HTP pode ser usada em alguns casos de depressão e tristeza. “É mais indicado para quem tem a deficiência do nutriente, causada, por exemplo, por dietas vegetarianas pobres em proteínas. Uma alimentação equilibrada supre as necessidades de triptofano”, diz Vânia Assaly, endocrinologista e nutróloga, membro da International Hormone Society.

Para ela, o suplemento age especialmente na melhora do sono, na redução da voracidade noturna e em transtornos leves de humor. Os suplementos dietéticos de 5-HTP são produzidos principalmente a partir de uma planta africana, a Griffonia simplicifolia.

Em uma meta-análise, pesquisadores da Cochrane encontraram evidências de que o 5-HTP é melhor do que placebo para aliviar sintomas da depressão.

Notaram, porém, que a maioria dos estudos não atingiu todos os critérios de qualidade e que mais pesquisas devem ser feitas para verificar possíveis efeitos adversos.

Segundo Frederico Demetrio, do HC, os primeiros estudos com 5-HTP foram interrompidos porque seu uso provocou dores musculares, mas elas foram atribuídas a impurezas no produto utilizado. “Em tese, o 5 HTP de boa qualidade, purificado, pode funcionar.”

Porém, o 5-HTP pode interagir com antidepressivos sintéticos, levando à concentração excessiva de serotonina. É contraindicado, ainda, para pacientes com tumores malignos ou doenças cardiovasculares.

Meditação

Estudos mostram que a meditação produz mudanças no cérebro, como a redução ou o aumento da atividade de certas regiões. “A hipótese é que reduza hormônios como o cortisol, diminuindo a ansiedade, e promova liberação de endorfinas, ligadas à sensação de prazer”, diz José Roberto Leite, coordenador da unidade de medicina comportamental da Unifesp.

Em 15 pesquisas analisadas pela organização Cochrane, pessoas que meditaram apresentaram melhora da depressão em comparação com as que não fizeram nenhum tratamento. O estudo concluiu que a técnica tem potencial para ser o tratamento inicial do problema, especialmente para pessoas jovens, com o primeiro episódio de depressão ou com quadro considerado bem leve.

Para Leite, os maiores cuidados devem ser tomados com pessoas com tendências autodestrutivas, como pensamentos suicidas. “São casos em que é preciso muito acompanhamento, e a meditação não pode ser o tratamento principal.”

Ele diz que, em geral, a meditação é uma técnica eficaz e de baixo custo para diminuir os sintomas e reduzir as reincidências do distúrbio. Para ter efeito, ele recomenda que seja praticada, no mínimo, quatro vezes por semana. “No início, a pessoa pode praticar por cinco a oito minutos. Em uma semana, ela já consegue meditar por dez minutos e vai aumentando gradativamente até chegar a 30 minutos, o que é suficiente para obter os efeitos”, diz Leite.

Fototerapia

A exposição à fonte de luz artificial intensa é um tratamento comprovado para a depressão sazonal -que ocorre no inverno, quando o período de luz solar diminui. É frequente em países mais distantes do Equador, em que os dias se tornam muito curtos nos meses frios. No Brasil, é menos comum. Na fototerapia, uma lâmpada fluorescente de pelo menos 2,5 mil lux (unidade de medida de luz) é colocada perto dos olhos da pessoa, sem que essa precise olhar diretamente para a lâmpada. As sessões duram cerca de 30 minutos por dia.

Segundo Rubens Pitliuk, neuropsiquiatra do hospital Albert Einstein, a fototerapia também pode ajudar em outros casos de depressão, se os sintomas pioram em dias cinzentos.

Uma revisão de 20 estudos concluiu que traz benefícios discretos, mas promissores, também para casos de depressão não sazonal, quando usada com outros tratamentos.

É possível adquirir aparelhos de fototerapia para uso em casa, mas deve haver orientação médica. Também é importante usar aparelho que não emita raios ultravioleta.

Suplementos de vitaminas B12 e B9 (ácido fólico)

As vitaminas B12 e B9 são essenciais para a fabricação de diversos neurotransmissores e atuam como modulares dos sistemas neurológico e hormonal. Em pessoas deprimidas, pode ser observada uma diminuição dos níveis desses nutrientes presentes no sangue.

A suplementação dessas vitaminas pode aliviar sintomas de depressão e potencializar efeitos de medicamentos antidepressivos. Costuma ser indicada para pacientes com sintomas de deficiência nutricional e alcoólatras (que normalmente apresentam deficiência de nutrientes e, em especial, falta de vitamina B 12).

Uma análise de estudos realizada pela Cochrane, envolvendo um total de 151 pessoas, indicou que o uso de vitamina B9 (ácido fólico) em conjunto com outros tratamentos diminui o grau de depressão dos pacientes. No entanto, os estudos não mostram se o efeito ocorre tanto em pessoas com deficiência do nutriente quanto nas com níveis normais de vitamina B9.

Em caso de desânimo ou tristeza não patológica sem causas aparentes, pode ser investigada a falta dessas vitaminas por meio de exame de sangue. Nessa circunstância, a suplementação pode ser suficiente.

Nos casos de depressão, é necessário corrigir a deficiência, se constatada, mas a suplementação é considerada um adjuvante do tratamento, e não o foco principal.

Em pacientes que não estão respondendo aos tratamentos, é recomendado checar os níveis dessas vitaminas encontrados no sangue e a suplementação pode auxiliar na obtenção de resultados.

Aparentemente, não há efeitos adversos e interações medicamentosas com o uso de suplementos de vitaminas B9 e B12. O excesso desses nutrientes no organismo é eliminado naturalmente pela urina.

Erva-de-são-joão

O extrato da erva-de-são-joão (Hypericum perforatum L) é um dos chamados antidepressivos naturais mais estudados. Porém, seu mecanismo de ação ainda não está totalmente esclarecido. “Aparentemente, seus princípios ativos têm ação semelhante à dos [medicamentos sintéticos] inibidores da recaptação de serotonina”, diz Frederico Demetrio, do HC de São Paulo.

A serotonina é um neurotransmissor que modula o humor e provoca bemestar. Baixos níveis da substância estão relacionados aos quadros de depressão. Os inibidores de recaptação aumentam a disponibilidade da serotonina no sistema nervoso central.

Uma meta-análise feita pela organização Cochrane concluiu que o extrato de erva-de-são-joão tem efeito superior ao do placebo e similar ao dos medicamentos sintéticos no tratamento de depressão leve a moderada. Foram analisados 29 estudos, que incluíam, no total, 5.489 pacientes.

Os autores ressaltam que, como há grande variedade de produtos à base de erva-de-são-joão no mercado, os resultados só são aplicáveis para as preparações testadas nos trabalhos incluídos na meta-análise. “É preciso usar extrato de qualidade com as concentrações adequadas dos princípios ativos da planta”, diz Demetrio.

Segundo o psiquiatra, o uso e a dosagem devem ser indicados e supervisionados por médicos, e os efeitos começam a ser percebidos após duas semanas, aproximadamente.

O mais importante é saber que a erva-de-são-joão interage com outros medicamentos e não pode ser usada com alguns deles. “O uso associado a outros antidepressivos, por exemplo, pode levar à síndrome serotoninérgica [concentração excessiva de serotonina], que causa de mal-estar a alucinações”, afirma Demetrio.

O mesmo pode ocorrer com alguns remédios usados para emagrecimento. O extrato também diminui a absorção de remédios anticoagulantes e de algumas drogas quimioterápicas, prejudicando o tratamento.

Entre os efeitos adversos, a erva-de-são-joão pode aumentar a fotossensibilidade -causando manchas e eczemas na pele com a exposição à luz- e causar secura na boca e constipação intestinal.

Acupuntura

A acupuntura busca reequilibrar a chamada “energia vital” por meio da estimulação de pontos específicos do corpo. A depressão, dentro dessa perspectiva, é entendida como um desequilíbrio no fluxo energético entre os órgãos. Restaurar esse fluxo e a saúde geral do indivíduo é uma estratégia para lidar com estados de desânimo.

Martius Luz, do setor de medicina chinesa e acupuntura da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que, além da restauração de energia, acredita-se que a acupuntura gere respostas no sistema nervoso central que estimulam a produção de serotonina.

Embora não existam estudos suficientes para comprovar essa teoria, há pesquisas populacionais indicando que as pessoas propensas a usar técnicas de medicina complementar obtêm resultados no tratamento da depressão com acupuntura. Uma revisão de sete estudos envolvendo 517 pessoas avaliou que não há evidência de que os medicamentos sintéticos sejam melhores do que a acupuntura para diminuir os sintomas de depressão. Por outro lado, os pesquisadores dizem não ter dados para concluir sobre a eficácia da acupuntura por si só.

Para Luz, a acupuntura pode ser usada isoladamente ou com outros tratamentos. O suporte emocional, como a psicoterapia, é importante para o sucesso do tratamento.

Os efeitos começam a surgir após cerca de cinco aplicações, mas podem demorar mais, dependendo da saúde geral e do grau de depressão do paciente. “Para alguns, são necessárias 15 aplicações”, afirma Luz.

GH e melatonina são tratamentos controversos

A utilização de hormônio do crescimento (GH) e de melatonina para quadros de depressão pode surtir algum efeito em casos específicos, mas não há evidências suficientes sobre os efeitos positivos e a segurança de uso dessas substâncias.

“O hormônio do crescimento só deve ser utilizado em pessoas que têm deficiência comprovada da substância. Nesse caso, pode ter efeito benéfico nos sintomas da depressão, mas só deve ser usado com indicação e médico, porque há risco de vários efeitos indesejáveis”, afirma a endocrinologista Vânia Assaly.

De acordo com Frederico Demetrio, do Hospital das Clínicas de São Paulo, o déficit do hormônio de crescimento é difícil de ser medido, porque a secreção

da substância varia muito durante o dia. “O hormônio do crescimento tem efeitos colaterais perigosos e é usado indevidamente, como anabolizante, por exemplo. De fato, ele causa hipertrofia muscular, e isso inclui o músculo cardíaco, o que pode levar a problemas no coração e ao infarto”, diz ele.

O GH também pode causar diabetes, tem interações perigosas com vários medicamentos, como os contra o câncer, e traz riscos renais.

A melatonina é uma substância produzida naturalmente pelo corpo que regula o ciclo sono-vigília. “A sincronização do sono pode, teoricamente, ajudar no tratamento, já que problemas para dormir são sintomas importantes da depressão”, afirma Demetrio.

Os efeitos especificamente antidepressivos da melatonina também estão sendo estudados, e um medicamento para depressão que atua nos receptores de melatonina está em fase de pesquisa.

Assaly lembra que a venda da melatonina é proibida no Brasil: a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deu parecer desfavorável à análise de eficácia e segurança do produto. No entanto, em alguns países, como os EUA, a melatonina é um suplemento de venda livre.