Do livro: O Poder do Pensamento Positivo

Autor: Norman Vincent Peale (1898 – 1993)

Ao pequeno-almoço numa sala de refeições de hotel, éramos três à mesa a compartilhar impressões sobre como tínhamos dormido nessa noite, obviamente um tema de enorme relevância. Um de nós queixou-se de uma noite mal dormida. Passou a noite às voltas na cama e acordou tão exausto como se deitou.
— É melhor deixar de ouvir notícias antes de me deitar — observou. — Estive atento ao noticiário de ontem à noite e fiquei
com os ouvidos cheios de problemas.
É uma frase esclarecedora, «os ouvidos cheios de problemas».
Não admira que tivesse dormido mal.
— Talvez o café que bebi antes de me deitar tenha tido alguma coisa a ver com isso — brincou.
O outro homem disse de sua parte:
— Já eu passei uma noite em beleza. Li as notícias no jornal vespertino e vi o noticiário da tarde, por isso tive tempo
de as digerir antes de ir para a cama. Mas como é óbvio — continuou —, recorri ao meu plano para adormecer que nunca falha.
Procurei saber que plano era esse, e ele explicou-mo da seguinte maneira.
— Quando era mais novo, o meu pai, que era agricultor, tinha o hábito de reunir a família na sala quando chegava a hora de dormir para nos ler passagens da Bíblia. Parece que ainda consigo ouvi-lo. Na verdade, sempre que ouço os versículos da Bíblia é como se os ouvisse no tom de voz do meu pai. Após as orações subia para o meu quarto e dormia como um anjinho. Mas quando saí de casa afastei-me das leituras da Bíblia e dos hábitos de oração.
» Confesso que, durante anos, praticamente as únicas vezes em que rezei foi quando me vi em apuros. Contudo, há uns meses, eu e a minha mulher, confrontados com alguns problemas complicados, decidimos retomar esses hábitos. Descobrimos que era uma prática muito benéfica, por isso, agora, todas as noites antes de nos deitarmos lemos a Bíblia e fazemos uma pequena sessão de oração. Não sei o que tem isso de especial, mas a verdade é que tenho dormido melhor e a nossa situação melhorou a todos os níveis. Na verdade, descobri a utilidade desta prática mesmo em viagem, como é o caso, por isso continuo a ler a Bíblia e a rezar.
Ontem à noite, deitei-me e li o Salmo 23. Li-o em voz alta e fez maravilhas.
Virou-se para o outro indivíduo e disse:
— Não me deitei com os ouvidos cheios de problemas, deitei-me com a mente em paz.
Temos aqui duas frases centrais — «os ouvidos cheios de problemas» e «uma mente em paz». Qual delas escolhe?
O segredo está na mudança da atitude mental. Temos de aprender a viver com uma base de pensamento diferente. Apesar de as mudanças na forma de pensar exigirem esforço, é muito mais fácil do que continuar a viver assim. Viver em tensão é difícil. Viver com paz interior, de forma harmoniosa e sem tensão facilita a nossa existência. O maior desafio na conquista da paz mental é o esforço necessário para renovar a forma de pensar de modo a esta ir ao encontro da atitude descontraída de aceitação
da dádiva de Deus consubstanciada na paz.

Como referiu um médico: «O problema de muitos dos meus pacientes reside apenas nos seus pensamentos. Tenho uma terapia favorita que receito a alguns, mas não numa receita médica que possa ser levantada na farmácia. A minha receita é um versículo da Bíblia, Romanos, 12:2. Não escrevo o versículo para os meus pacientes, obrigo-os a ir procurá-lo, e diz o seguinte: “… deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade…” Para serem mais felizes e saudáveis, precisam de renovar a sua mente, ou seja, de alterar o padrão dos seus pensamentos. Quando “tomam” a medicação, ficam com a mente em paz. Isso é gerador de saúde e bem-estar.»
Um método primário para obter uma mente em paz consiste em praticar o esvaziamento da mente. Vamos aprofundar este tópico noutro capítulo, mas se o refiro aqui é para sublinhar a importância de uma catarse mental frequente. Recomendo uma limpeza mental pelo menos duas vezes ao dia, ou com maior frequência, se necessário. Esvazie a sua mente de medos, ódios, inseguranças, arrependimentos e sentimentos de culpa. O simples fato de fazer este esforço consciente para esvaziar a sua mente tem tendência a proporcionar algum alívio. Nunca teve uma sensação de alívio quando foi capaz de desabafar com alguém da sua confiança preocupações que lhe causavam um aperto no coração?
Enquanto pastor, observei muitas vezes o quão importante é para as pessoas poderem contar com alguém em quem podem confiar totalmente para desabafarem sobre o que perturba a sua mente.

Claro que esvaziar a mente não chega. Se a mente fica vazia, tem de voltar a ser preenchida com algo. A mente não pode ser um vácuo. O leitor não pode andar sempre por aí com a mente vazia. É verdade que algumas pessoas parecem conseguir esse feito, mas, regra geral, é necessário voltar a encher a mente para que os antigos pensamentos infelizes que expulsou não voltem a entrar.
Para impedir que isso aconteça, comece imediatamente a preencher a sua mente com pensamentos criativos e saudáveis.
A seguir, quando os medos, ódios e preocupações antigos que o atormentaram durante tanto tempo tentarem esgueirar-se de novo lá para dentro, vão encontrar um cartaz na porta da sua mente onde pode ler-se «ocupado». O mais certo é insistirem para entrar, uma vez que se sentem em casa por terem vivido na sua mente durante tanto tempo. Mas os novos pensamentos saudáveis que invocou vão estar mais fortes e resistentes e serão capazes de os expulsar. Em pouco tempo, os pensamentos antigos vão desistir por completo e deixá-lo em paz. Irá desfrutar de uma mente em paz de forma permanente.

De tempos a tempos, no seu dia a dia, invoque uma série de pensamentos tranquilos. Deixe-se invadir por imagens mentais dos cenários mais tranquilos que alguma vez visitou, como por exemplo, um belo vale onde reina o sossego de um fim de tarde, enquanto as sombras se alongam e o sol reclama o merecido repouso. Ou recorde o brilho prateado da lua refletido nas águas ondulantes, ou lembre-se do mar a invadir suavemente as praias de areia fina. Essas imagens pacíficas serão como um bálsamo para a sua mente. De tempos a tempos, ao longo do dia, deixe-se invadir lentamente por imagens de paz.
Ponha em prática a técnica da articulação sugestiva, ou seja, repita em voz alta algumas palavras pacíficas. As palavras têm um enorme poder sugestivo, e basta a sua menção para suscitarem a cura. Se enunciar uma série de palavras suscetíveis de causar pânico, a sua mente mergulhará imediatamente num estado de nervosismo. O mais certo é sentir um arrepio no estômago que afetará todo o seu organismo. Se, pelo contrário, enunciar palavras pacíficas e tranquilizadoras, a sua mente reagirá de forma tranquila. Empregue palavras como «tranquilidade». Repita essa palavra lentamente várias vezes. Tranquilidade é uma das palavras mais belas e melódicas da nossa língua, e basta referi-la para induzirmos um estado tranquilo.
Outra palavra curativa é «serenidade». Evoque uma imagem de serenidade enquanto enuncia a palavra. Repita-a lentamente e esteja consciente daquilo que ela simboliza. Palavras como estas têm poderes curativos quando são usadas desta forma.

o silêncio é uma prática reparadora, calmante e saudável. Nas palavras de Starr Daily: «Tanto quanto sei, nenhum homem ou mulher que conheça e que esteja ciente da forma de praticar o silêncio, e o faça, esteve alguma vez doente. Reparei que as minhas aflições me assaltam quando não equilibro a expressão com o relaxamento.» Starr Daily associa o silêncio à cura espiritual. A noção de repouso que resulta da prática do silêncio total é uma terapia de incomensurável valor.

Preencha a sua mente com o máximo de experiências pacíficas possível e efetue visitas regulares e deliberadas através da memória. Tem de aprender que a forma mais fácil de alcançar uma mente descansada é através da criação de uma mente descansada. Isto alcança-se com a prática, através da aplicação dos princípios simples que estão enunciados neste livro. A mente está muito receptiva à aprendizagem e à disciplina. Pode convencer a mente a pensar naquilo que quiser, mas lembre-se que ela só pode refletir aquilo que recebeu previamente. Se encher os seus pensamentos com experiências, palavras e ideias pacíficas, conseguirá acumular um acervo de experiências geradoras de paz ao qual poderá recorrer em busca de consolo e renovação de espírito.
Será uma importante fonte de poder.