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Lá nas redes sociais – poesia de Braulio Bessa

Lá nas redes sociais
o mundo é bem diferente,
dá pra ter milhões de amigos
e mesmo assim ser carente.
Tem like, a tal curtida,
tem todo tipo de vida
pra todo tipo de gente.

Tem gente que é tão feliz
que a vontade é de excluir.
Tem gente que você segue
mas nunca vai lhe seguir.
Tem gente que nem disfarça,
diz que a vida só tem graça
com mais gente pra assistir.

Por falar nisso, tem gente
que esquece de comer,
jogando, batendo papo,
nem sente a fome bater.
Celular virou fogão,
pois no toque de um botão
o rango vem pra você.

Mudou até a rotina
de quem tá se alimentando.
Se a comida for chique,
vai logo fotografando.
Porém, repare, meu povo:
quando é feijão com ovo
não vejo ninguém postando.

Esse mundo virtual
*tem feito o povo gastar,*
exibir roupas de marca,
ir pra festa, viajar,
e claro, o mais importante,
que é ter, de instante em instante,
um retrato pra postar.

Tem gente que vai pro show
do artista preferido,
no final volta pra casa
sem nada ter assistido,
pois foi lá só pra filmar.
Mas pra ver no celular
nem precisava ter ido.

Lá nas redes sociais
todo mundo é honesto,
é contra a corrupção,
participa de protesto,
porém, sem fazer login,
não é tão bonito assim.
O real é indigesto…

Fura a fila, não respeita
quando o sinal tá fechado,
tenta corromper um guarda
quando está sendo multado.
Depois, quando chega em casa,
digitando manda brasa
criticando um deputado.

Lá nas redes sociais
a tendência é ser juiz
e condenar muitas vezes
sem saber nem o que diz.
Mas não é nenhum segredo
que quando se aponta um dedo
voltam três pro seu nariz.

Conversar por uma tela
é tão frio, tão incerto.
Prefiro pessoalmente,
pra mim sempre foi o certo.
Soa meio destoante,
pois junta quem tá distante
mas afasta quem tá perto.

Tem grupos de todo tipo,
todo tipo de conversa
com assuntos importantes
e outros, nem interessa.
Mas tem uma garantia:
receber durante o dia
um cordel do Bráulio Bessa.

E se você receber
esse singelo cordel
que eu escrevi à mão
num pedaço de papel,
que tem um tom de humor
mas no fundo é um clamor
lhe pedindo pra viver.
Viva a vida e o real,
pois a curtida final
ninguém consegue prever.

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